Artigo: A inteligência artificial e o ambiente de trabalho: reflexões e especulações (1)

Luiz Maia


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Há 54 anos, o filme de Stanley Kubrick – 2001, Uma Odisseia no Espaço – encantava e assustava o mundo inteiro com imagens de tirar o fôlego para a ficção de Arthur C. Clarke. Ao simular um número fantástico de inovações em produtos e serviços que só seriam introduzidas bem depois da virada de século, – Spoiler Alert – a trama ganha maior dramaticidade quando enlouquece(!) uma inteligência artificial (AI, da expressão em inglês), ameaçando a vida e a misteriosa missão dos protagonistas.

Poucos de nós temos aquele talento para visualizar com décadas de antecedência – e tantos detalhes – os avanços tecnológicos do futuro, as formas como solucionarão problemas e, claro, como também revelarão novos desafios. O que fazemos, isso sim, é observar padrões e propor interpretações alternativas... cenários! Fato é que, entre a concepção, o desenvolvimento e a adoção de novas tecnologias, poucas mudanças ocorrem de forma linear; muitas vezes, superados certos obstáculos, os incrementos parecem adotar evolução exponencial. Tornam-se, portanto, bem pouco previsíveis.

Desde o final do ano passado, o Chat GPT – portal de acesso livre para a interação das pessoas com uma inteligência artificial e um volume extraordinário de informações – atrai atenção, admiração e preocupações de toda sorte. Algumas dessas reações são perfeitamente justificáveis; outras, nem tanto. Mas pode-se especular que boa parte do impacto criado por essa AI advém de a entidade imitar fielmente a expressão humana – pré-condição para que a personagem fictícia HAL, de Arthur C. Clarke, se torne mais uma previsão bem-sucedida. Estamos diante, portanto, de uma daquelas etapas-chave que tornam evidente o ritmo acelerado das mudanças em curso, e nos levam a uma série de perguntas: estaríamos, como seres humanos, mudando tão rápido quanto o mundo tecnológico ao nosso redor? Por mais que sejamos deslumbrados por novidades, como nos preparar para enfrentar os desafios que já começam a aparecer nos ambientes de trabalho, de ensino/pesquisa, em instituições e legislações das mais diversas naturezas?

Ninguém duvida: as AI’s já estão sendo incorporadas nos mais diferentes setores não apenas como meras ferramentas, mas também como “agentes”: ou seja, elas são capazes tanto de cumprir ordens, como de delegar ou supervisionar tarefas. Sabe-se bem, pela experiência dos últimos 2 séculos, que a produtividade das pessoas cresce muito com o uso de máquinas mais poderosas; lamentavelmente, gera-se desemprego porque um único indivíduo passa a dar conta de tarefas antes conduzidas por equipes inteiras. Este efeito é previsível, um redimensionamento nos quadros de pessoal. Mas a natureza da mudança que começamos a vivenciar é outra: conviveremos com modelos organizacionais baseados em inteligência humana ampliada, em que a presença de indivíduos de carne e osso, como eu e você, será “calibrável”; em grande medida, opcional.

Elon Musk, um dos principais desbravadores desse universo tecnológico – sócio da empresa desenvolvedora do Chat GPT, a OpenAI – tem, de fato, afirmado que no futuro o trabalho físico será opcional; os robôs e as AI’s passarão a executar a maioria das tarefas essencialmente humanas e ocuparão grande espaço no mercado de trabalho. Nesse sentido, ele vê como inevitável o estabelecimento de uma renda mínima garantida, universal. Impressiona, talvez, que a discussão NÃO seja mais sobre algo que ocorrerá nas próximas décadas, mas provavelmente dentro dos atuais mandatos de líderes já eleitos, mundo afora.

Por hora, imagine-se decidindo com um velho amigo onde almoçar na próxima 6ª feira: naquela “usina de comida” que reproduz de forma absolutamente precisa a receita, a aparência e até o sotaque do chefe francês mais badalado do momento... ou na opção mais cara: o boteco de Seu Manoel, que te conhece desde os tempos de faculdade. Sem se darem conta, vocês farão na verdade TRÊS escolhas: entre meios alternativos de interação; entre diferentes processadores de informação; e uma terceira escolha, entre bases de dados distintas. Mas isso é assunto para a nossa próxima especulação. Bon appétit... e volte sempre!

 

Luiz Maia @luizmaiafilho @cenaristasbr

Professor de Economia e Finanças da UFRPE

Coordenador do Mestrado Profissional em Saúde Única

Membro-Fundador do Cenaristas.com.br

 

Tibério César @tiberiocesar

Mentor Empresarial e Mentor Comercial

Coach Executivo de Liderança

Conselheiro Consultivo de Governança Corporativa


Fonte: Crédito: Imagem elaborada por inteligência artificial através da Plataforma NightCafé

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