Ômicron: Impactos na economia mundial

Sónia Fonseca Gomes


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Por Sónia Gomes e Luíz Maia 

 

Nos últimos dias, a nova variante da covid-19, ômicron, com maior potencial de contágio que as anteriores, trouxe novas preocupações aos mercados mundiais - num momento de projeções de crescimento forte para as economias mundiais, a despeito de disparidades no panorama geral. De acordo com o OCDE Economic Outllook (dezembro de 2021), a produção na maioria dos países membros já ultrapassou o nível registrado ao final de 2019 e está convergindo para sua trajetória pré-pandemia; entretanto, nas economias de renda média e baixa, especialmente naquelas onde as taxas de vacinação não avançaram, a recuperação é lenta ou inexistente, correndo-se o risco de ficarem para trás.

Neste cenário, o surgimento desta nova cepa da covid-19 traz consigo uma deterioração das expectativas e o reacender de uma série de preocupações, nomeadamente:

  • Restrições sobre a circulação de pessoas: restrições às viagens com consequente impacto sobre a atividade econômica;

 

  • Mercados mundiais nervosos: maior incerteza leva à desvalorização das ações; procura por ativos que tragam mais segurança;

 

  • Mudança no ritmo em que bancos centrais retirariam estímulos mundo afora: as políticas monetárias expansionistas podem ter continuidade além do esperado, mesmo diante de crescentes riscos inflacionários, o que, na prática, pode significar menor crescimento no longo prazo, processos inflacionários mais resistentes aos mecanismos tradicionais de controle e taxas de desemprego mais elevadas;

Até o momento, sabe-se pouco sobre a letalidade desta nova variante. O que se pode esperar, mesmo se confirmada uma maior transmissibilidade da cepa, é um menor impacto comparativamente à realidade vivida nos últimos dois anos, já que o mundo criou mecanismos de adaptação nas suas mais diversas áreas, mercado de trabalho, comércio, serviços, indústria, etc.

A preocupação maior recai, portanto, sobre os países de rendas média e baixa, principalmente no que tange à necessidade de políticas sociais muito mais efetivas – só que em um cenário de alto endividamento público naqueles países.

De tudo isso, depreende-se a necessidade de ajuda dos países desenvolvidos aos mais pobres, na questão vacinal. Essa cepa surge justamente como resultado da desigualdade vacinal no mundo, principalmente em relação aos países africanos. Enquanto os países da OCDE, com resistência ou não, já apresentam cobertura vacinal total de mais de 50% da população – e iniciando a aplicação de terceira dose em muitos deles –, a África vacinou pouco menos de 7% de sua população (continente de 1 bilhão de pessoas).

Enfim, tem-se novamente a economia mundial à mercê da questão sanitária, revelando seu caráter de governança global. A crise pandêmica pode perdurar enquanto os países mais desenvolvidos priorizarem a aplicação de doses de reforço em suas populações, desconsiderando o fato de a livre circulação do vírus em outras partes do planeta constituir verdadeira fábrica de variantes – ameaçando continuamente suas estratégias míopes e sectárias.


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