Desempenho da atividade econômica brasileira em tempos de covid-19: Uma leitura regional a partir do Índice de Atividade Econômica do Banco Central.


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A pandemia do COVID-19 provocou um curto-circuito em cascata na economia global, com pouco precedentes na história. As perturbações intensas sobre a produção, consumo e renda da população afetaram severamente a economia, forçando empresas a adiarem investimentos e demitirem milhões de trabalhadores. O cerne desta análise é verificar a capacidade de recuperação de regiões e estados brasileiros durante o período da pandemia, e refletir junto ao leitor, as causas condicionantes deste fenômeno.

O indicador utilizado é o Índice de Atividade Econômica Brasileira Regional (IBC-R), formulado pelo BACEN que consiste numa série mensal, com ajuste sazonal, da atividade econômica a partir de estimativas dos setores econômicos, impostos e importações. O IBC-R possui abertura para as 5 regiões brasileiras e 13 Estados, que representam 85% do PIB nacional (IBGE, 2020). Apesar do Brasil, suas regiões e estados sinalizarem uma trajetória de recuperação da atividade econômica, há uma heterogeneidade no desempenho inter-regional e intraregional, a ser observada na figura abaixo.

O Centro-oeste mantém na sua estrutura exportadora uma couraça aos choques da economia. A região mantém na pandemia, o histórico das duas últimas recessões, de ser menos impactada entre as regiões, apesar da incapacidade no caso recente de manter uma trajetória de recuperação, dado ainda estar 6,1% abaixo do nível pré-pandemia.

A região Norte e Nordeste observaram o fundo do poço apenas em maio, diferente das outras regiões e do Brasil com ápice da queda no mês de abril, sinal claro do efeito do auxílio emergencial (PAE). Apesar de ambas regiões apresentarem trajetórias de recuperação, o Nordeste mantém seu histórico de recuperação mais lenta, com a BA como caso alegórico, operando em julho a 9,3% abaixo do nível pré-pandemia. Destaque para a capacidade de reação econômica ao nível pré-covid para CE (-1,8%), PE (-2,2%), AM (-2,2%) e PA (-2,3%) com desempenho superior ao nacional (-6,5%).

O Sudeste demonstra trajetória de reabilitação, com o 2º melhor desempenho regional até julho (2,5% abaixo do nível pré-covid). O Estado de MG é o que mais se aproxima de uma recuperação em V, com sua atividade operando 2,7% acima do nível antes da pandemia. Por seu turno, RJ e ES dão sinais tímidos de reação da atividade, apesar de terem observado contrações a patamares similares a SP, ainda se encontram 5,6% e 4,2% abaixo do nível pré-pandemia, respectivamente.

A região Sul, que tem exibido um crescimento médio nos últimos 3 anos de 2,2%, o dobro da média nacional (1,06%), manteve sua histórica capacidade de retomada, apesar de abarcar dois Estados (RS e PR) em posições antagônicas. Ambos sofreram quedas de -11% em abril, mas de um lado do RS já se aproxima de superar o nível pré-covid, com desempenho estável de -0,4%, e do outro lado, o PR ainda se encontra 9% abaixo do patamar pré-pandemia, sem demonstrar nenhum sinal de recuperação.

Mais do que tentar trazer respostas simples para fenômenos complexos, vale suscitar com o leitor alguns questionamentos: (1) se Norte e Nordeste foram os mais beneficiados do PAE (sobre o PIB), porque o primeiro tem apresentado uma recuperação mais intensa que o segundo? (2) E por qual razão, estados que tiveram impactos negativos semelhantes apresentam trajetórias de recuperação tão distintas? (3) Localidades que responderam melhor ao isolamento social tiveram recuperações mais rápidas? (4) A capacidade de execução dos planos estaduais de convivência afetou o desempenho? São essas breves questões que se somam aos profundos desafios da recuperação econômica no longo prazo.


Marcelo Freire – @marcelofreireeconomia

Formado em Economia pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e atuando como Gerente de Desenvolvimento Econômico na Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (SDEC-PE). Desenvolve análises de conjuntura e assessoria na área econômica, com foco no mercado de trabalho, competitividade setorial e políticas públicas.

contato: [email protected]

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