2020 - Recessão sem precedentes (Artigo do Cenarista Tiago Monteiro)

Luiz Maia


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Tiago Monteiro
Economista e professor do Cedepe Business School

 

Parece que o mercado brasileiro, além de sentir o golpe da Covid em sua economia, também vem assimilando os seus reais efeitos colaterais nos negócios, na indústria e nos serviços. Tanto é que o Boletim Focus da semana passada trouxe uma avaliação mais pessimista e, ao mesmo tempo, mais realista da atividade econômica brasileira em 2020.

Só de pensar que no começo de abril, esses mesmos analistas de mercado estavam projetando, em um devaneio sem base concreta, um recuo do nosso PIB na casa do -1,18% (enquanto que FMI e Banco Mundial já projetavam algo na casa dos -5,5%), já dava um arrepio nos investidores (nacionais e internacionais), que se perguntavam se aquelas projeções mais otimistas e utópicas eram para vender um equilíbrio econômico que não existia, ou se era para testar a capacidade de análise dos próprios investidores. Bem, a fuga de capital colocando o dólar próximo aos R$ 6,00 já responde bem essa pergunta.

Com a aproximação do pico da primeira onda da Covid no país e projeções mais frias acerca do abrandamento do isolamento social, os impactos na nossa economia seguem deixando rastros de destruição em empresas e famílias, o que traz uma base mais dura, porém realista, de projeções que apontam um recuo do PIB na casa dos -6%, e o que pode muito bem ser potencializado para um recuo mais agudo a depender das respostas dos governos (federais, estaduais e municipais) e do tempo e do grau do isolamento social no nosso país.

Tanto é que essa inatividade econômica tem como um dos catalisadores justamente o arrefecimento do consumo (demanda), que, mesmo com uma taxa básica de juros aos 3% e projeções mais brandas para o custo de capital até o final deste ano (2,25%), segue sua saga de desconfiança e inércia, o que coloca as projeções do IPCA em uma tendência latente de queda – hoje esperado ao 1,57%, ao final deste ano.

Para tentar potencializar consumo e produção, uma das manobras que o próprio Banco Central vem fazendo é o abrandamento do custo de capital – reduzindo a taxa básica de juros, a Selic. Projetada aos 2,25% já para o final deste ano, esse mecanismo está se mostrando inócuo frente à desconfiança e a falta de incentivo à produção e ao consumo. Pois as empresas estão sem fôlego financeiro, e quando recorrem aos bancos justamente para tomar crédito mais barato, surpreendem-se com o aumento das taxas de juros e da burocracia – resposta dos bancos ao clima de incerteza e ao risco de se emprestar em tempos de crise.

O resultado é um país com um risco altíssimo, por causa do rombo fiscal (só em 2020 será de mais de R$ 520 bilhões), das incertezas políticas e da recessão econômica, e uma remuneração baixíssima frente a esse risco, visto que a Selic está aos 3% e com projeções mais brandas no curto prazo, causando fuga de capital – Dólar trafegando entre R$ 5,50 e R$ 6,00.
 

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